Habitualmente há alguma indefinição entre os significados dos vocábulos mosteiro
e convento na nossa tradição popular.
Na verdade, têm alguma diferença entre si, porque designando conteúdos semelhantes, referem-se a realidades diferentes que têm a ver com a sua origem e tempo histórico de cada um. Como sempre, não querendo ter a palavra final sobre o assunto, vejamos o que podemos acrescentar sobre o tema:
A palavra Mosteiro (do grego monasterion, e depois do latim monasterium) designa geralmente um grande complexo arquitetónico polivalente, situado em espaço ermo, portanto distante de qualquer povoação, pelo menos no tempo da sua construção, porque depois acontece que o próprio complexo pode dar origem a uma nova povoação, ou simplesmente ser envolvido por uma já existente a alguma distância. Nos primeiros séculos os mosteiros eram principalmente masculinos, e só mais tarde surgem os femininos, em maior ou menor grau de clausura monástica (portanto, afastadas da convivência com a população exterior) em que os internos dedicam a sua vida à devoção religiosa e ao trabalho (do lema “ora et labora”), de onde tiram o seu sustento e o da instituição onde vivem. Assim, para além das horas que dedicam à contemplação, à oração e às cerimónias religiosas, a verdadeira essência da sua vida, precisam de trabalhar na agricultura, nos ofícios artesanais, ou ainda nas atividades intelectuais (leitura, estudo, cópia de livros), ou na saúde das populações vizinhas (criando enfermarias), ou até no apoio dos viajantes e peregrinos (hospedarias). Os seus habitantes são designados por monges (ou monjas), e são dirigidos por um abade (ou abadessa) em cada mosteiro.
A criação dos mosteiros iniciou-se no séc. VI com S. Bento de Núrsia que fundou o primeiro mosteiro em Montecassino – Itália, em 529, e aí estabeleceu a Regra (regulamento rígido para ser seguido em todos os mosteiros beneditinos que haveriam de se espalhar por toda a Europa Ocidental, numa fase de grande divisão política após a queda do Império Romano do Ocidente, e com uma população essencialmente ruralizada, em que a Igreja assumiu o papel de elemento aglutinador de toda a Europa Ocidental. Ao longo dos séculos vieram a formar-se variantes da linha original beneditina, como a de Cister (Citeux – S. Bernardo – Clairvaux), a de Cluny (S. Odão), ou a Cartuxa (S. Bruno-Chartreuse), que praticavam o mesmo tipo de vida.
Pelas características de vida atrás assinaladas, os mosteiros são geralmente grandes complexos arquitetónicos, com todos os equipamentos que eram necessários à sua função: igreja (o único espaço com acesso ao público), salas (sendo a principal, a do capítulo), cozinha e refeitório, dormitórios, oficinas, celeiro, lagar, adega, estábulo, etc.
Aos mosteiros, e aos monges nele instalados, deve o Ocidente muito do conhecimento da cultura clássica (greco-romana), através das cópias manuscritas que fizeram das obras escritas em grego e latim na Antiguidade. Também na agricultura, pelas condições que tinham, e pela extensão dos seus territórios, geralmente doados pela Coroa, desenvolveram a economia das regiões onde estavam estabelecidos, e fomentaram as técnicas e a produção de todos o género de alimentos. Em Portugal reconhece-se a importância do mosteiro de Alcobaça para a agricultura de toda a região do Oeste.
Já na baixa Idade Média, num contexto histórico diferente, marcado pelas Cruzadas e pelo desenvolvimento urbano, vão surgir novas Ordens Religiosas mais abertas à sociedade por toda a Europa. Vão estabelecer-se nas cidades, em estabelecimentos que a pouco e pouco vão passar a ser designados por Conventos (do latim Conventus), e que sendo também habitados por homens ou mulheres que devotaram a sua vida à religião (designados por frades ou freiras), têm esta característica de se instalarem em espaço urbano. Apesar de terem também o seu espaço de recolhimento e clausura interior, não têm a importante componente do trabalho agrícola ou artesanal, por que não têm esse espaço disponível, e podem abrir-se à ação religiosa ou social sobre as populações vizinhas, especialmente os masculinos, a quem a população recorre para os ofícios religiosos. Já os conventos femininos são
mais restritos e a clausura é mais intensa, dedicando-se as freiras, para além da vida religiosa, às atividades domésticas – doçaria, apoio às atividades litúrgicas e lavores femininos. Não dependendo do seu trabalho manual dos frades ou freiras, os conventos viviam dos ofícios religiosos, das doações pias e do apoio da Coroa.
Nos primeiros tempos destas novas Ordens Religiosas ainda se identificam situações em que são designadas por mosteiros, em função da sua localização, embora a atividade dos frades esteja mais inserida na sociedade civil. Por exemplo, no séc. XIV, em Loulé, o cenóbio dos Franciscanos era habitualmente designado ainda por Mosteiro de Sam Francisco.
Os conventos são normalmente mais pequenos do que os mosteiros e são compostos por capela/igreja (aberta ao exterior), cozinha e refeitório, dormitórios, salas (capítulo, ou de trabalho) e o emblemático claustro central.
As ordens religiosas são muitas e derivam em grande parte da regra de S. Francisco de Assis, que criou os Franciscanos em Assis – Itália, no séc. XIII, e do seu ramo feminino, criado por S. Clara, também de Assis, as Clarissas. Numa base de total dependência do que lhes davam em troca da sua ação religiosa, são chamadas Ordens Mendicantes, onde se destacam, para além dos Franciscanos, também os Dominicanos (S. Domingos de Gusmão). Depois, muitas outras foram surgindo, com algumas variantes entre si, mas com o mesmo modelo de vida, segundo os votos clássicos de pobreza, obediência e castidade, muitas vezes com designações curiosas de origem popular: Agostinhos (Santo Agostinho – Crúzios, Recoletos, Descalços -“Grilos”), Dominicanos (S. Domingos de Gusmão), Carmelitas (Monte Carmelo – Santo Alberto), Camilianos (S. Camilo de Lélis), Jerónimos (S. Jerónimo), Lóios (Santo Elói), Redentoristas (Santíssimo Redentor), Trinitários (Santíssima Trindade – “Trinos”), Teatinos (S. Caetano), Salesianos (S. Francisco de Sales), Doroteias (Irmãs Doroteias), Concepcionistas (S. Beatriz da Silva), etc.
Ambos os tipos de instituições que acabámos de citar se desenvolveram ao longo da Idade Média e Moderna, tendo sofrido grande impacto negativo com o advento do Liberalismo, nos finais do séc. XVIII e no XIX, em que foram reduzidas de forma muito significativa, tendo acabado por ser extintas em grande parte, como no caso português após 1834, em que foram fechados de imediato todos os cenóbios masculinos, e aos femininos foi permitida a sua existência até à morte da última freira de cada convento.