40A- Os Antigos Conventos de Loulé

B – Convento dos Grilos

   Av. Marçal Pacheco – Loulé

É o edifício tradicionalmente conhecido por Hospital de Loulé, ou da Misericórdia, na Rua Marçal Pacheco.

Hospital de Loulé —Aqui teria funcionado inicialmente uma albergaria medieval, que o rei D. Afonso V terá transformado em hospital dedicado a Nossa Senhora dos Pobres, no ano de 1471, primeiramente para se “nele curarem os soldados, depois que se recolheram da tomada de Tânger”. No século XV e XVI teria sido gerido por uma confraria própria, até 1570, quando D. Sebastião passou a instalação hospitalar para a Mesa da Misericórdia de Loulé.

Em 1683 passou a ser gerida por um clérigo louletano –  o Padre João do Aguiar Ribeiro, e assim esteve até cerca de 1695 ou 1696, altura da sua morte.

Em 1696 o rei D. Pedro II entrega o hospital à Ordem de Santo Agostinho – Agostinhos Descalços, os Grilos (derivado ao seu hábito) que lhe deu o nome popular, enquanto oficialmente passava a ostentar o nome de Hospital Real de Nossa Senhora dos Pobres (até 1910).

Os Grilos geriram o hospital até 1820, ano em que foi extinto o convento dos Agostinhos Descalços de Loulé, e nessa data passou novamente para a Misericórdia, por decisão de D. João VI. Por esta altura, todos os serviços da Misericórdia, incluindo a sua igreja, passaram para este edifício. A antiga igreja da Misericórdia situava-se junto ao Largo dos Inocentes (na área onde hoje é a CGD), foi profanada em 1826, e foi comprada em 1837 pelo Padre José de Santo Agostinha Teixeira, pároco de Salir, por 30.500réis.

Em 1838, D. Maria II manda reservar uma parte do hospital para as tropas do Coronel Fontoura, no tempo das guerrilhas miguelistas.

Ao longo dos séculos XIX e XX o hospital continuou sob a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Loulé, até 1976, quando o Estado nacionalizou os hospitais das Misericórdias. Assim esteve na posse do Estado até 2005, quando volta a ser devolvido à Santa Casa, e em 2011 passou a ser o Hospital de Loulé, SA, de gestão privada, mas em que a infraestrutura é pertença da Misericórdia.

Para além do hospital, funcionaram também nas suas instalações, ao longo dos tempos, um recolhimento feminino, lazareto, albergue de pobres, etc.

A parte mais antiga era a da sua fachada poente (Rua Marçal Pacheco), com a igreja ao centro e duas alas laterais. Também ainda é visível um pequeno claustro interior. As instalações foram, ao longo dos séculos recebendo várias adaptações arquitetónicas, enquanto que a sua relação com a citada rua em frente também se alterou com a abertura da nova estrada para Faro (década de 1880), nomeadamente o seu desnível.

Destacamos a fachada da igreja, com o seu portal manuelino (princípios do séc. XVI) e o cruzeiro em frente.

C – Convento do Espírito Santo

  Rua Vice-Almirante Cândido dos Reis

Único convento feminino de Loulé, dedicado a N. Senhora da Conceição. Era um dos quatro conventos femininos do Algarve (Faro, Loulé, Tavira e Lagos), e também o único que ficava instalado intramuros da vila de Loulé.

Terá sido fundado em 1684 e começou por ser uma casa de recolhimento de mulheres pobres, que terão transitado do recolhimento do convento dos Grilos, as quais habitaram o espaço antes das freiras franciscanas, que ali se instalaram por finais do século XVII. A Câmara Municipal doou-lhes a capela de Nossa Senhora da Conceição e alguns terrenos anexos, com os quais o convento foi crescendo. Sendo franciscanas, estas seguiriam o modelo das freiras clarissas (Santa Clara) e ali estiveram até 1836, quando as últimas foram enviadas para o convento similar de Nossa Senhora da Assunção de Faro.

Foi fechado e vendido em hasta pública nessa altura, ficando o Estado com a parte principal do prédio, onde depois funcionou o Tribunal.

Notável claustro de finais de setecentos, com dois níveis e com arcos abatidos, talvez de inspiração no claustro do convento dos Capuchos, e a igreja, que foi dividida em dois níveis na sua altura, e neles passaram a funcionar uma sala de teatro, e depois a sala de audiências do tribunal e outros serviços da CML (hoje auditório e oficina do Museu Municipal).

D – Convento de Santo António dos Olivais

  Rua Nossa Senhora da Piedade

Foi fundado em 1546, porNuno Rodrigues Barreto, Morgado de Quarteira entre 1521 e 1557, Alcaide-mor de Faro e Fronteiro-mor do Algarve, e sua mulher D. Leonor de Millá (ou Milão). Eram os pais da famosa D. Francisca de Aragão, uma das musas da Luís de Camões. Convento de Santo António 02O convento era de frades franciscanos Capuchos, da Ordem da Piedade, e o nome Olivais deriva do topónimo em que estava inserido, a poente da vila de Loulé.

O edifício conventual patrocinado pelo citado morgado de Quarteira situava-se numa zona baixa da propriedade, próximo do ribeiro ainda hoje existente, e veio a ser fortemente danificado em 24 de outubro de 1587, por uma enxurrada de grandes proporções, a qual ficou historicamente conhecida como o “dilúvio de Loulé”. Mais tarde, entre 1675 e 1692, foi construído um novo convento num lugar próximo, mas mais alto, doado por André de Ataíde (o que se conhece hoje).

Qualquer das duas localizações que teve, ficava em linha de vista, a três centenas de metros de distância, da ermida de Nossa Senhora da Piedade, marco do património cultural das gentes louletanas, que teria sido erguida alguns anos depois (1553) do primeiro edifício conventual.

Nada se conhece do primeiro edifício, mas do segundo ainda é possível observar a sua igreja (restaurada nos anos 1980, e onde a CML tem desenvolvido atividades culturais) e o claustro seiscentistas, este a carecer de obras urgentes de reparação, porque é, no meu modesto entender, o espaço mais nobre, arquitetonicamente falando, do conjunto.

É Imóvel de Interesse Público por Despacho de 4 de janeiro de 1984.

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Bibliografia:

– OLIVEIRA, F. X. Ataíde Oliveira – “Monografia do Concelho de Loulé” – Algarve em Foco Editora – 1986;

– SANTOS, Marco Sousa – “A Santa Casa da Misericórdia de Loulé” – Vol. I – Ed. S C M Loulé – 2019.

– SIMÕES, João Miguel – “História Económica, Social e Urbana de Loulé” – Caderno 7 do Arquivo Municipal de Loulé.

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