38A – O Morgado de Quarteira

Dado o interesse local, para Quarteira e Loulé, deste tema, propus-me fazer aqui um esboço acerca da evolução histórica deste assinalável espaço deste concelho. Não é um trabalho acabado, mas posso dar aqui algumas informações ao grande público ou pistas para futuras investigações.

A primeira vez que aparece uma referência ao território que viria a ser conhecido como Morgado de Quarteira foi no Foral de Loulé, de 1266, em que o rei D. Afonso III reserva para si, e todos os seus sucessores, todas as herdades de Quarteira, para seu reguengo, bem como todos os moinhos de Quarteira, construídos e por construir, e os pisões, ou azenhas se as fizerem. Tornava-se assim uma propriedade do rei (significado da palavra reguengo), e assim fica por mais um século e meio.

O rei seguinte, D. Dinis, para rentabilizar a terra, ainda celebrou contratos de arrendamento de parcelas com vários casais e homens solteiros para nelas trabalharem.

Para povoar o lugar, fora do reguengo, em 1297, outorgou uma carta de povoamento a Martim Mecham e a mais cinquenta homens (que se presumiria que trouxessem as suas famílias) para o seu lugar de Quarteira, mas a tentativa parece não ter dado frutos, porquanto em reinados bastante posteriores, nomeadamente de D. Afonso V (em meados do século XV) ainda se faziam tentativas de povoamento do lugar.

Entretanto, o reguengo continuaria a sua produção, talvez sem o lucro esperado, porque no princípio do século XV (em 1412), o rei arrendou a terra a um fidalgo que estava fixado em Loulé, Gonçalo Nunes Barreto, o qual no ano seguinte (1413) o viria a adquirir definitivamente, por troca com o rei D. João I pelo seu senhorio em Cernache (Coimbra).

A partir de 1413 na família dos Barreto, e instituído em morgado logo no século XV, com a inerente obrigação de indivisibilidade e preservação, foi passando por sucessivas gerações na família, embora com alguns pontuais interregnos, até aos finais do séc. XIX com essas características.

A componente residencial da quinta, residência habitual da família dos morgados, era o edifício solarengo que hoje funciona como a Estalagem da Cegonha, onde o morgado de então, Rui Nunes Barreto, recebeu com todas as honras e festejos o rei D. Sebastião e a sua comitiva, no seu périplo pelo Alentejo e Algarve, em janeiro de 1573.

A fase final do morgado de Quarteira iniciou-se com a morte de do 1º Duque de Loulé, em 1875, a partir da qual a propriedade ficou em partilhas para o Conde da Azambuja e permaneceu na posse dos seus descendentes até 1929, quando foi adquirida pela Família Júdice Fialho (industrial de conservas do Algarve). Com uma área de cerca 1700 hectares (era então a maior propriedade do Algarve), foi posteriormente adquirida em 1964, por Artur Cupertino de Miranda (Banco Português do Atlântico), pelo valor de 150.000 contos, que criou a firma Lusotur, e no seu espaço se desenvolveu o atual empreendimento turístico de Vilamoura, iniciado na segunda metade dos anos 1960.

(No próximo artigo identificarei os Morgados ao longo do tempo)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *