5 – A evolução e desaparecimento desta coletividade
Deixámos já atrás explícito que a atividade da Sociedade de que tratamos não afinou pelo diapasão da regularidade. Vários foram os períodos que não se fizeram sessões, nem se sabe se manteriam os membros entre si algum elo de ligação.
Não existiram praticamente cisões internas, nunca, ao que consta se formaram min-grupos com diferenças marcantes entre si. Existiram, isso sim — e parece-nos que tal é normal, acontecendo em qualquer tipo de associações— algumas saídas singulares de membros do grupo. Alguns tiveram que se deslocar, abandonando naturalmente o grupo, outros, por qualquer motivo demitiram-se (doença, velhice), outros ainda (pelo menos um) foram expulsos por não pagarem as quotas, nem para tal darem uma desculpa.
No entanto, e neste contexto, a mais importante separação surgiu nos finais do ano de 37. Separadamente, foram-se afastando Cláudio José Pinto, “atacando o Presidente e a Sociedade”, Carlos André Pinto, o padre Domingos de Sousa Viegas, o tesoureiro Francisco Martins Andrade e, por último, o mais importante – o padre José Rafael Pinto, que havia algum tempo não assinara os estatutos revistos e pedira a sua demissão “em consequência da sua idade e moléstia”.
Estas saídas efetuaram-se entre 31 de agosto e 31 de dezembro de 1837, não tendo assim constituído uma saída em bloco. Mas é significativa! Três membros da família Pinto (entre os quais, o dinâmico Pe. José Rafael Pinto, o velho) que desde inicio participavam na Sociedade e até foram os seus principais fundadores. Lembre-se que o Prior Pinto fora o primeiro Presidente da coletividade e Cláudio José Pinto, o primeiro Diretor. Além destes, e talvez por simpatia para com o seu colega, o Pe. Domingos de Sousa Viegas, também sócio antigo, e ainda o tesoureiro Francisco Martins Andrade, cujos antecedentes se desconhecem.
A que correspondia isto? Eis uma questão a que é difícil responder. As atas não se referem pormenorizadamente ao facto, antes o abordam sumariamente. Como vimos, desconhecem-se os estatutos e, muito menos se sabe do que constaram as suas alterações.
Questões de ordem interna? Problemas levantados no seio do grupo? Ou questões de ordem externa, relacionadas com a revolução de setembro do ano transato e seu posterior regime político?
Só nos aparece uma coisa como certa – que os problemas são levantados diretamente pelos estatutos revistos.
Nas sessões anteriores à demissão do Prior Pinto, é este fortemente censurado, tendo sido dito que “tem mostrado pouco interesse pela sociedade”.
De qualquer modo estes membros aparecem-nos como minoria no contexto social do Gabinete. Entretanto a sociedade ainda ia, talvez, no seu caminho ascendente. Teria sido apenas um acidente de percurso…
Até 1841-42 a Sociedade pode dizer-se em atividade normal, para daí em diante se mostrar cada vez menos ativa, como vimos, até 1848. Aliás, a data considerada final – 20 de fevereiro de 1848 – é marcada por una ata bastante lacónica, sem termos ou significado de maior, não aludindo explicita ou implicitamente a que seria a última. Também assim acontecia naquelas que se seguiam a longos períodos de passividade, em que não se expunham as causas nem se aludia ao facto de a sociedade ter estado inativa. A ser certo que a sociedade acabou mesmo em 48, temos de considerar aqui que ela “morreu” de velhice, sem quaisquer sobressaltos. Na sequência lógica das longas paragens intermédias. Naturalmente…