4 — A vida cultural e mundana
Além de uma relação importante com os eventos políticos de maior significado, que ao longo do seu período de atividade houve, teve ainda a dita sociedade tempo e disposição para se dedicar aos aspetos de índole cultural. Talvez até fosse essa, aliás, a razão principal da sua existência, o seu suporte estruturai, aparecendo-nos então as manifestações de ordem política como questões pontuais, acerca das quais a sociedade tomava uma posição pública.
Para que a cultura e o conhecimento dos factos fosse uma das características dos membros da Sociedade, adquiria esta bastantes exemplares de livros e jornais que ao tempo existiam no país e que mais se coadunassem com a ideologia do Gabinete. Mas, convém frisar, não se compravam somente os “seus” jornais, adquiria-se todos os anos a assinatura de “um periódico da oposição’, mostrando talvez assim a sua abertura às ideias contrárias.
Foram os seguintes os jornais que a Sociedade foi adquirindo, por ordem cronológica:
a) a partir de 31 de maio de 1836:
b) assinaturas oferecidas pelo Juiz de Tavira, Gonçalo Magalhães Colaço, em 3 de julho de 1836:
– “Independente”;
– “Diário do Governo”
– “Nacional”
– “Revista”
– “Artilheiro”
– “Periódico dos Pobres”
– “Movimento”
– “Minerva”
– “Industrial…?”
c) a partir de 30 de setembro de 1836:
– “Porto Franco”
d) a partir de 9 de abril de 1837:
– “O Hespanhol”;
– “O Examinador”
Em 15 de agosto de 1837 são considerados mais importantes os seguintes jornais e completadas as suas coleções: “Diário do Governo”, “Nacional”, “Periódico dos Pobres”, “Arquivo Popular” e “Anómalo”,
Os restantes não foram completados. Mas continuemos:
e) a de 31 de dezembro de 1837:do 37
– “Recreio de Família”,
Em 31 de janeiro de 1838 considera-se que “0 Procurador dos Povos”, da oposição “não estava em condições de ser assinado pela sociedade”.
f) a partir do 15 de fevereiro de 1838:
– “O Tempo”.
Nesta data refere-se que o “Hespanhol” era assinado em Madrid e que os Correios eram frequentemente intercetados entre Madrid e Ayamente. Prossigamos:
g) a partir de 25 de junho de 1838:
– “A Hespanha”;
h) a partir de 29 de dezembro de 1838:
– “Lusitano”;
– “Panorama”.
i) a partir de 31 de dezembro de do mesmo ano:
– “O Chocalheiro”
j) a partir de 31 de janeiro de 1839:
– “O Mensageiro”;
l) apartir de 28 de fevereiro de 1839:
– “Pobres do Porto”;
m) desde 11 de março de 1840:
– “Março Pitoresco”.
n) desde 3 de jeneiro de 1844:
– “Revolução de Setembro”.
o) desde 12 de dezembro de 1844:
– “O Patriótico” – da oposição.
Convém aqui frisar que os jornais eram escolhidos em janeiro e em julho para os semestres seguintes. Daí que a sociedade não assinava todos os jornais apresentados, ao mesmo tempo. Esta lista refere-se, repetimos, aos jornais assinados ao longo da atividade da Sociedade.
A única referência qualitativa que ao longo das sessões se faz dos periódicos, á acerca do ‘Independente”, considerado “dos mais bem redigidos do país”. Sobre este mesmo jornal, José de Arriaga na sua obra já citada diz que é “moderado, sincero e bastantes vezes ingénuo”.
No entanto, o mais importante de todos deverá ter sido o “Panorama”, que aparece em 1837 e de que Alexandro Herculano foi diretor.
Sobre os livros ou outras publicações existentes, as referências são menores, não porque não existam (compreende-se através da leitura das diversas atas que elas existiam), mas porque não são mencionados os seus títulos. Vejamos, ainda assim, os que explicitamente se sabe que existiam:
– “Anaes da Sociedade Promotora da Indústria Nacional”
– “Instruções sobre agricultura, artes e indústrias “
– “Constituição de 1838”
– “História Portuguesa” da Castilho – “obra interessante”
– “Mapa do Algarve” de J. B. da Silva Lopes
– “Folheto com a descrição da praça de Gibraltar”
Além destes (poucos) aparecem ainda as seguintes alusões:
“Ofertas de livros à Sociedade” (em 1 de nov. 1836)
“O prior Pinto oferece alguns livros que tinha na Sociedade” .
Sabe-se ainda que existia uma biblioteca, para a qual houve um pedido para que à Sociedade ficassem a pertencer os arquivos dos conventos da Graça e Capuchos, à Rainha, o que não se sabe se foi deferido.
Quanto a outras manifestações mundano- culturais devem salientar-se as comemorações que, todos os anos, se faziam no dia 29 de dezembro – dia da instalação da Sociedade. O Presidente em exercício discursava em sessão pública e depois seguia-se o baile respetivo.
Nas festas era ainda frequente jogar-se o “balancé” e tomarem-se refrescos.
Já com alguns anos de atividade, resolveu a sociedade rejeitar uma proposta de compra de um bilhar e de jogos de tabuleiro, tendo, no entanto, aderido ao “jogo da bola” (curioso) em que participavam oficiais do destacamento aquartelado na vila.
Em aspeto de caráter caritativo citemos ainda um jantar oferecido aos presos no 1º aniversário, bem como uma “esmola em dinheiro às viúvas necessitadas das vítimas da usurpação”.
Enfim, também neste aspeto a sociedade acompanhava os progressos que a imprensa fazia. Talvez os melhores periódicos da época estivessem dentro da lista apresentada.
É de assinalar ainda a influência que a Espanha exercia e que se manifesta na assinatura de pelo menos um jornal espanhol. É que a Andaluzia está muito próxima do Algarve, são zonas geográficas afins e complementares.