17. A narrativa da Conquista de Tavira pelo Mestre de Santiago, D. Paio Peres Correia

A Conquista de Tavira*

Na sequência do último artigo, sobre a morte dos cavaleiros cristãos, transcrevo igualmente a narrativa da tomada de Tavira da mesma fonte.

VI – De como o Mestre acudiu àqueles cavaleiros e pelejou e tomou Tavira e os desbaratou

“Enquanto os Cristãos pelejaram [lutaram], chegou recado ao Mestre a Cacela, onde estava, e cavalgou logo com suas gentes o mais apressadamente que pode, para lhes acorrer, porque bem sabia que outra falta não havia de passar por eles, senão vencer ou morrer. E trouxe o caminho que eles trouxeram, e entrou pela porta da vila e passou pela praça sem nenhuma contradição, e tão cioso ia por lhes socorrer que não lhe ocorreu tomar a vila, que bem pudera tomar se quisesse. E quando chegou às Antas e viu os cavaleiros mortos, começou com os Mouros muito duro combate e morreu tanta gente deles que ainda hoje em dia jaz ali a ossada deles e desde que os venceu seguiu o alcance, fazendo grande estrago entre eles. Os Mouros que estavam na vila, quando o Mestre por ela passou, ficaram espantados de sua vinda e não cuidaram que o Mestre se apercebera disso, e muito à pressa cerraram as portas, temendo-se do que depois se seguiu, e quando os viram assim vir fugir não lhes ousaram abrir as portas, e saíram para os recolher dentro, e abriram-lhes uma porta escondida que está na mouraria, e os Cristãos deram ali com eles e não havendo em si acordo de se defender, entrou o Mestre com eles de volta e cobrou a vila e se apoderou dela, e foi estranha a mortandade que o Mestre e os seus fizeram nos Mouros, e também nos da vila, como nos que morreram fora. E não consta se o mouro  Aben Fabilla, senhor desse lugar, esteve nesta batalha e morreu nela ou se ficou no lugar e o que se fez dele. Foi esta batalha e os mouros mortos em Tavira ganha aos mouros aos onze dias de junho por dia de S. Barnabé, na era de mil e duzentos e quarenta e dois anos. E tomada a vila, a deixou o Mestre segura e tornou com muita gente às Antas, onde jaziam os cavaleiros mortos, e com grandes gemidos e dor, os tiraram dentre os Mouros que jaziam os corpos deles lançados no sangue com as espadas nuas, e trouxeram-nos à vila e fizeram na mesquita-mor Igreja de Santa Maria, e mandou o Mestre fazer um momento em que pôs os sete escudos com as vieiras do senhor Santiago e ali foram soterrados todos seis e o mercador com eles, os nomes dos quais são os que se seguem: D. Pero Paes, comendador- mor [da Ordem de Santiago]; Mem do Vale; Damião Vaz; Álvaro Gracia; Estêvão Vaz; Valério de Ossa e o mercador Gracia Rodriguez, cujos corpos foram depois tidos em grande relíquia e reverência e devoção, como mártires que espargiram seu sangue por honra da fé de Jesus Cristo.”

Grafia atualizada.

  • Também da denominada “Crónica da Conquista do Algarve” – Texto de 1792, comentado, anotado e republicado por José Pedro Machado – Separata do nº VIII dos Anais do Município – Pág. 9 e 10 – Faro – 1979

A data apresentada no artigo anterior – 1242 – não é compatível com a presença em Portugal de D. Paio Peres Correia, que tinha ido no ano anterior para Castela. Não havendo certezas, pensa-se que Tavira teria sido conquistada em 1239 ou 1240.

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