40 – Os Antigos Conventos de Loulé

Fazendo parte integrante da população das vilas e cidades antigas, ou do seu meio rural envolvente, havia em quase todas elas comunidades religiosas que as caracterizavam: os conventos nas zonas urbanas, e os mosteiros no meio rural.

Homens e mulheres formavam comunidades separadas, retiravam-se do ambiente familiar a que pertenciam, e dedicavam a sua vida à oração, ao trabalho agrícola ou artesanal para a sua subsistência, ao ensino ou ao tratamento de doentes, num modelo que marcou a Europa Ocidental desde a alta Idade Média (séc. VI) até ao século XIX, já bem perto de nós.

Podiam ser chamados a esta forma de vida por uma vocação especial, ou simplesmente como uma forma de vida que resultava do contexto social e económico que caracterizava os tempos antigos.

Embora a sua forma de vida fosse semelhante, mais ou menos retirados do conjunto da restante população, havia diversas ordens religiosas, as quais seguiam regras de vida e missões com algumas diferenças entre si, a partir da regra original passada por S. Bento de Núrsia ao fundar em 529 o primeiro mosteiro de monges beneditinos, em Montecassino – Itália. Em comum tinham todos os religiosos os votos que faziam ao entrar para a comunidade: pobreza, obediência e castidade.

Historicamente são conhecidos em Loulé quatro instalações conventuais, que ao longo do tempo foram sendo implantados na então vila por várias ordens religiosas, num contexto habitual pelas principais localidades do Algarve e do país, e que na generalidade terminaram a sua existência, enquanto tal, no ano de 1834, quando o governo Liberal aboliu as ordens religiosas e mandou fechar os conventos, principalmente os masculinos.

Quando foram construídos, três deles situavam-se no exterior das muralhas da vila, no campo adjacente, como convinha a um certo recolhimento religioso. Esta localização justifica que no período medieval o cenóbio franciscano seja descrito nos documentos da época como Mosteiro de Sam Francisco. Com a evolução da malha urbana vão ficando integrados no espaço habitado da vila.

Por serem edifícios de grande dimensão, continuaram a servir a população louletana mesmo depois de terem sido fechados, noutras valências, e mantendo a sua identidade arquitetónica, ainda que muitas vezes em ruínas, onde geralmente se destacam a igreja privativa e o claustro.

Faremos de seguida uma breve síntese sobre a identidade destes quatro conventos:

A- Convento da Graça

Largo Tenente Cabeçadas (ou da Graça) – Loulé

Inicialmente foi um convento franciscano (OFM), já existente em 1328, a leste das muralhas da vila, de que há algumas referências nas atas da vereação de princípios do séc. XV, a dizer que já precisava de obras de recuperação. A Ordem dos Franciscanos terá sido a primeira ordem religiosa a fixar-se nas principais localidades algarvias, depois da Reconquista, nomeadamente em Tavira e Loulé.

Em 1580 o Cardeal-Rei D. Henrique ofereceu o convento à Ordem de Santo Agostinho – Agostinhos Calçados. Daqui veio o nome da Graça para o convento e alguns arruamentos locais, porque estes frades tinham em Lisboa o Convento da Graça – Gracianos.

O Terramoto de 1755 destruiu grande parte do edifício conventual e a sua igreja, com o seu portal gótico, “a mais bela ruína de Loulé”. Ainda se iniciou a sua recuperação, como é visível pela fachada principal, logo a seguir ao cataclismo, mas as obras não se concluíram, e acabou a sua existência religiosa na voragem da abolição das Ordens religiosas de 1834.

Nesta data passou para o domínio privado, em hasta pública, tendo sido vendido por 500$000 réis, e as suas duas cercas por 300$000 réis (Ataíde Oliveira).

O seu espaço profanado foi palco de diversas atividades comerciais ou industriais, bem como casas de habitação, desde então, sem grande reconhecimento da sua importância histórica.

É Monumento Nacional pelo Decreto – Lei n.º 9842 de 20 de junho de 1924. 

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