Sobre a família dos Barreto, titulares do Morgado de Quarteira ao longo de muitos séculos, vamos apresentar aqui um esboço incompleto da sua sequência genealógica, em que os primeiros nomes ainda não estão relacionados com Quarteira:
– Gomes Mendes Barreto – Mestre da Ordem do Templo – regista-se o seu nome em 1211-12 na cúria de D. Sancho I; é a primeira figura conhecida da família. Foi pai de
– Fernão Gomes Barreto – casou com Sancha Pais de Alvarenga – há registos da sua presença na cúria de D. Afonso III em 1248 e 1254; irmão de
– João Gomes Barreto – esteve na cúria de D. Afonso III entre 1249 e 1253, tendo participado na conquista do Algarve;
– Gonçalo Nunes Barreto I – casou com D. Brites Fernandes Pimentel e recebeu em dote o senhorio de Cernache (Coimbra), com o qual engrandeceu o património familiar; pai de
– Diogo Gonçalves Barreto – casou com D. Teresa Martins, e foi nomeado Fronteiro-Mor do Algarve, tendo sido o primeiro dos Barreto que se fixou no Algarve; foi exilado por D. Fernando I por acompanhar o Infante D. João de Castro, tendo os seus bens passado para o seu filho, por volta de 1376.
Com a figura seguinte começa a ser conhecida no Algarve a família dos Barreto de Quarteira, ou Morgados de Quarteira:
1º – GONÇALO NUNES BARRETO II (c. 1350- c. 1431) – filho de Diogo Gonçalves Barreto, e que surge nas atas de vereação de Loulé como aqui residente; era casado com D. Inês de Menezes, filha ilegítima de D. Pedro de Menezes, que foi senhor de Loulé, e cujo neto D. Henrique de Menezes, foi o primeiro Conde de Loulé (1471); foi partidário do Mestre de Avis na crise de 1383-85, que o nomeou Fronteiro-Mor do Algarve; Juiz geral em Loulé, em 1408; em 1412 o rei atribui-lhe o rendoso reguengo de Quarteira, que ele vem a adquirir definitivamente em 1413, por troca com o senhorio de Cernache (Coimbra) que entrega ao rei; fundador do Morgado de Quarteira, em data incerta; esteve na conquista de Ceuta (1415), onde ficou algum tempo; lá lhe morreu o seu filho Fernão Barreto; nos últimos anos de sua vida foi membro do Conselho do Rei e também assinou o tratado de paz com Castela de 1431; terá falecido pouco depois, septuagenário. Sucedeu-lhe na Casa o seu neto
2º – GONÇALO NUNES BARRETO III (morgado entre 1431 e 1475) – c.c. D. Isabel Pereira e foi Comendador–Mor da Ordem de Santiago; foi Alcaide-Mor do castelo de Faro e Fronteiro-Mor do Algarve, com D. Duarte; foi apoiante do Infante D. Pedro, após a morte de D. Duarte, mas contra ele em Alfarrobeira (1449); esteve sempre no Algarve, onde teve muitos conflitos com outras entidades locais e regionais, que lhe valeram múltiplas queixas em Cortes. Construiu o solar cujas ruínas estão agora musealizadas sobre os antigos banhos islâmicos de Loulé, com autorização real de D. Afonso V. Pai de
3º – NUNO BARRETO (morgado entre 1475 e 1494) – c.c. D. Leonor de Mello; foi-lhe dado o privilégio de socorrer Ceuta e os que lá viviam, com D. Afonso V; tinha direitos sobre o porto de Farrobilhas, muito importante para Loulé. Um seu irmão, Fernão Pereira Barreto, fundou o Morgado do Freixo Verde (Quinta do Freixo). Pai de
4º – RUI BARRETO I (morgado entre 1494 e 1521) – c.c. D. Branca de Vilhena; Alcaide-Mor de Faro (1498); Fronteiro–Mor do Algarve; Vedor da Fazenda do Algarve (1513); próximo do rei D. Manuel I, que lhe confirmou os privilégios do socorro a Ceuta e outras mercês; construção e povoação e torre em Quarteira; socorro ao cerco de Arzila (1508); Capitão de Azamor; muito lutou para receber um título nobiliárquico, mas nunca conseguiu. Pai de
5º – NUNO RODRIGUES BARRETO (morgado entre 1521 e 1557 – c.c. D. Leonor de Millá (ou Milão) – Alcaide-Mor de Faro, onde residia; Fronteiro-mor do Algarve; pai da famosa D. Francisca de Aragão1; fundador do primeiro Convento de Santo António dos Capuchos, em Loulé, no ano de 1546, que viria a ser fortemente danificado em 1587, tendo sido mais tarde, em 1692, construído um novo convento em lugar mais alto da mesma cerca (o que se conhece hoje); era irmão de
6º FRANCISCO BARRETO, grande figura de militar, que teve uma notável carreira na Ásia portuguesa, e que entre 1563 e 1567 teve também um importante papel na casa de Quarteira, como tutor do seu sobrinho Rui Nunes Barreto, até que foi nomeado para general das galés de Portugal, e depois ainda protagonista de outros grandes feitos militares até à sua morte (1573); tio de
7º – RUI NUNES BARRETO – morgado de 1557 a 1574 – c.c. D. Brites de Vilhena; comandante da armada de guarda-costa do Algarve; Alcaide-Mor de Faro; Vedor da Fazenda do Algarve; Capitão –Mor de Ordenanças do Algarve; a sua casa foi visitada pelo rei D. Sebastião em janeiro de 1573, no seu périplo pelo Alentejo e Algarve (ver post 25B). Pai de
8º NUNO RODRIGUES BARRETO II – morgado de 1574 a 1602 – durante o seu mandato deu-se o ataque do conde de Essex (inglês) a Faro, em 1596, em que ficou bastante mal visto, por não ter conseguido evitá-lo. Foi substituído pelo seu irmão
9º FRANCISCO BARRETO II – morgado a partir de 1602.
10º FRANCISCO de BORJA e ARAGÃO (filho de D. Francisca de Aragão – n. 1581- m- 1656) – Príncipe de Esquilache; foi Vice-Rei do Peru, onde fundou a Universidade de S. Marcos, em Lima. Poeta.
11º – ANTÓNIO de MENDOÇA (m. em 1675) – Filho de Nuno de Mendonça, 1º Conde de Vale de Reis; Arcebispo de Lisboa, entre 1670 e 1675; foi Morgado de Quarteira por mercê de D. João IV.
12º – FRANCISCO BARRETO DE MENEZES (n.1616 – m. 1688) – nasceu no Peru; título entregue pelo Infante Regente D. Pedro; venceu no Brasil a 2ª batalha dos Guararapes (1649), contra os Holandeses; restaurador de Pernambuco, Governador-Geral do Brasil e elevado a Conde do Rio Grande, em 1678. Pai de
13º – ANTÓNIA MARIA FRANCISCA BARRETO (séc. XVII) – c.c. Lopo Furtado de Mendonça; Condessa de Rio Grande;
14º AGOSTINHO DOMINGOS DE MENDONÇA ROLIM DE MOURA BARRETO (n. 1780 – m. 1824) – e 8º Conde de Vale de Reis; 1º Marquês de Loulé; foi comandante da Legião Lusitana, ao serviço de Napoleão; membro da Maçonaria.
15º NUNO JOSÉ SEVERO DE MENDONÇA ROLIM DE MOURA BARRETO (1804-1875) – 2º Marquês de Loulé e 1º Duque de Loulé; 4º Conde da Azambuja; par do Reino; casou com a Infanta D. Ana de Jesus Maria de Bragança, filha de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. Grande figura política do Liberalismo do séc. XIX. Último morgado de Quarteira. Depois da sua morte a Quinta de Quarteira passou em partilhas para o 5º Conde da Azambuja, ficando nesta família até 1929.
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1 – Famosa dama da corte de D. João III, e uma das musas de Luís de Camões.
Bibliografia
– Carta de Povoamento de Quarteira – 1297 – Chancelaria de D. Dinis – ANTT
– MARTINS, Isilda – O Foral de Loulé de 1266 – Ed. C M Loulé – 1989
– MORENO, Humberto B. – “Conflitos entre os Barreto e os seus Opositores no séc. XV” – Revista da Fac. Letras do Porto (online);
– VILA-SANTA, Nuno – “Do Algarve, a Marrocos e à Índia – Francisco Barreto e a Casa de Quarteira” – Arq. Municipal – C M Loulé – 2020.