36 – S. Clemente – Loulé

No calendário litúrgico católico comemora-se a 23 de novembro o dia de S. Clemente.

S. Clemente, ou Clemente I, foi o quarto Papa de Roma, tendo o seu pontificado decorrido entre os anos de 88 e 97. Terá nascido por volta de 35 e faleceu como mártir no ano 100. (Todas esta datas não são unânimes). É considerado o primeiro Pai da Igreja e escreveu uma Epístola aos Coríntios.

Aquando da reconquista de Loulé aos Mouros, no ano de 1249, e da posterior adaptação a igreja cristã da antiga mesquita principal da vila, o templo foi atribuído como orago a este papa santificado. Curiosamente, todas as restantes igrejas principais das grandes vilas do Algarve da época, também reconvertidas de antigas mesquitas, foram atribuídas a Santa Maria, como é o caso de Silves, Faro e Tavira, as primeiras localidades que receberam carta de foral no território algarvio, em 1266.

Qual é a explicação para o nome de S. Clemente em Loulé, de forma algo excecional? Há várias teses que suportam o facto, mas não há uma certeza absoluta sobre a questão. Deixo aqui as que são conhecidas:

1. Ter sido a reconquista de Loulé realizada no dia 23 de novembro de 1249. Esta tese foi apresentada pelo Prof. J. Romero Magalhães1, e sem querer por em causa o valor desta explicação (quem sou eu para contrariar o ilustre historiador) mas não me deixa completamente tranquilo quanto à sua plausibilidade, isto porque, tendo a conquista de Faro sido feita anteriormente, em março, numa forma que a documentação mostra ter sido sem grandes combates, antes numa rendição mais ou menos pacífica depois de um cerco, não parece muito lógico que tenha sido necessário decorrerem oito meses para tomar Loulé que, ao que se julga, também foi feito sem grande luta.

2.  A especial devoção a este santo pelo Deão de Braga, Fernando Anes de Portocarrero, que se sabe que esteve na reconquista do Algarve (é citado no Foral de Loulé), com o seu Arcebispo, e que no seu testamento também mandou erigir a S. Clemente uma capela em Braga. O carácter evangelizador da figura deste antigo Papa teria sido importante, num espaço onde a maioria da população ainda não era cristã. Esta tese é defendida pelo Prof. Luís Filipa Oliveira2.

3. O facto de Sevilha ter sido tomada aos Mouros no dia de S. Clemente de 1248, onde estiveram D. Paio Peres Correia e alguns dos seus freires da Ordem de Santiago, que também participaram na tomada de Loulé.

 Portanto, são apresentadas aqui algumas hipóteses possíveis, cada uma delas, ou em conjunto, para explicar a originalidade do nome de S. Clemente para a igreja matriz de Loulé e a freguesia que a tem como cabeça. Tal como sempre na História, pode sempre apresentar-se futuramente outra documentação que venha a confirmar (ou alterar) aquilo que se pensa hoje sobre qualquer tema do passado.

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1 Magalhães, Joaquim Romero – “A Conquista do Algarve aos Mouros” – C M Faro – 1987 – Pág. 12

2 Oliveira, Luís Filipe – “A Conquista, o padroeiro e os priores de Loulé” – Univ. Algarve/IEM (consulta online) Pág. 75-76. Este tema também é confirmado em ANTUNES, José – “Portugueses no processo histórico da fundação da Universidade de Salamanca” in Rev. História das Ideias – Fac. Letras U. Coimbra – Vol. 12 -1990 – Pág. 43);

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