A propósito da atual proposta de criação da Reserva Natural da Foz do Almargem e do Trafal, trago à atenção de todos que esta área tem ainda um valor cultural significativo: desde o período Neolítico que se comprova a presença humana nesta zona litoral a nascente de Quarteira, conhecida popularmente como Loulé Velho, como indicam, entre outros, os arqueólogos abaixo citados, Leonor Rocha, João Pedro Bernardes e Isabel Luzia, já neste século, e dos quais retiramos estas informações.
Com efeito, as escavações conduzidas por Leonor Rocha, em 1999, identificaram diversos objetos de uso humano da época neolítica, especialmente materiais cerâmicos (vasos decorados e taças carenadas), e muito poucos materiais líticos 1.
É, no entanto, da época romana, que se conhece um conjunto de vestígios, de que há referências escritas desde o século XVIII (Frei Vicente Salgado – 1786), que na atualidade estão reduzidos a uma pequena porção daquilo que terão sido ao longo dos tempos, num espaço junto à linha de costa, entre as ribeiras de Almargem e de Carcavai, que outrora tinha uma outra geografia, e que permitiria a acostagem de embarcações vindas por mar. São estruturas e objetos que foram datados do período entre os séculos I a. C. e VII d. C., principalmente ligados ao processamento de produtos piscícolas, entre as quais várias cetárias, onde se produziria o famoso garum (pasta de peixe e marisco muito apreciada no mundo romano).
Complementarmente, outras informações que temos dos finais do séc. XIX e inícios do séc. XX (Estácio da Veiga e Teixeira de Aragão), falam-nos de equipamentos habitacionais, provavelmente uma luxuosa villa, com as suas termas e compartimentos pavimentados a mosaico e, curiosamente, não se referem às cetárias. Há igualmente referências a estruturas que poderão ser relacionadas com as fundações de uma basílica paleocristã, algumas sepulturas, e restos de canalizações de chumbo.
Pensa-se que grande parte das estruturas da época romana já tenham desaparecido, por efeito da ação do mar sobre a costa, que nas últimas décadas tem sido extraordinária, desconhecendo-se a extensão exata do seu perímetro, mas é provável que, soterrado, ainda haja potencial arqueológico considerável 2. O conjunto de fotos apresentado no trabalho de Isabel Luzia 3, registadas no ano de 1978, mostram claramente o conjunto de estruturas e objetos que então ainda estavam visíveis e que a erosão marítima quase totalmente eliminou desde então.
Mais recentes, mas também já desaparecidos, eram duas construções de caráter defensivo – os chamados “forte velho” e o “forte novo” (da Guarda Fiscal), de que se avistam ainda deste último, na maré baixa, alguns blocos desagregados da sua estrutura.
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1 Cf. ROCHA, Leonor – “O sítio neolítico da praia do forte Novo – Quarteira- Loulé” – Ver. Al-Ulyã – nº 10 – 2004.
2 Cf. BERNARDES, João Pedro – “Intervenção arqueológica de emergência no sítio romano de Loulé- Velho” – Revista Al-Uluà – nº 12 – 2008.
3 Cf. LUZIA, Isabel – “O sítio arqueológico de Loulé Velho” – Revista Al- Ulyã – nº 10 – 2004.