Para concluir estas transcrições da Crónica apresentamos hoje o que dela consta sobre a tomada de Loulé e Aljezur.
Chamo a atenção novamente para alguma falta de rigor espacio-temporal nas descrições, onde o autor, que escreve bastantes anos depois dos factos, parece mais preocupado com o elogio à ação do Mestre de Santiago, D. Paio Peres Correia, do que com outros protagonistas, nomeadamente o Rei D. Afonso III, e com a realidade dos factos. Enfim, por aqui passa a diferença entre a crónica medieval e a verdadeira História.
“Depois que El-Rei tomou a vila de Farão, logo dali a poucos dias partiu o Mestre com sua companha e foi-se lançar sobre Loulé, e não esteve o cerco muito sobre ele que logo o não tomassem e porque o Mestre corria alguma gente nas pelejas e combates das vilas, disse-lhe um dia El-Rei, falando com ele: Mestre! Muito me pesa pelos cavaleiros que vos morreram na conquista destes lugares, porque eram todos mui estremados homens! Senhor, disse o Mestre. Não tomeis dor pelos mortos, porque morreram no serviço de Deus e salvação das suas almas! E logo o Mestre partiu de Loulé e foi-se lançar sobre Aljezur; e quando os Mouros souberam que Farão e Loulé e os outros lugares eram tomados, deram-se logo ao Mestre com a condição que se deu Farão; e o Mestre, pelo cansaço que havia recebido, ele e as suas gentes, nos outros lugares, aprouve-lhe com isto e de se tomar logo Aljezur, como vos dissemos; e Deus lhe deu todos estes vencimentos, porque sabia quão de vontade o Mestre era no seu santo serviço”.
Grafia atualizada.
*Segundo a “Crónica da Conquista do Algarve”, de autor ainda não completamente identificado, provavelmente do séc. XIV, publicada em 1792, e republicada, com comentários e notas, por José Pedro Machado – Separata dos Anais do Município – VIII – Faro 1979.